quarta-feira, agosto 30, 2006

As questões éticas históricas

A questão dos dopings se perde no tempo. Casos de praticantes de atividades esportivas utilizando bebidas alcoólicas, macerações feitas a base de cogumelos tóxicos, invadem os primórdios olímpicos. Sagrações a Dionísio, o deus do vinho, entre outras, fazia com que alguns competidores arriscassem seus talentos trançando as pernas, evidentemente, nada conseguiam, além de iludir a ansiedade. A falta de registros impede um estudo mais rigoroso, entretanto, no início do século XIX a morfina foi descoberta e pouco depois usada em cavalos de corrida. No final desse mesmo século, mais especificamente em 1879, era comum entre os ciclistas europeus o uso de uma espécie de coquetel vasodilatador formado por açúcar, éter e nitroglicerina, uma literal bomba. A primeira morte associada a doping aconteceu com um ciclista inglês que misturou nitroglicerina com cocaína, detonando a própria vida. Entre os jogos olímpicos, o de Roma, em 1960 despertou uma preocupação especial, quando três atletas, um norte-americano, um inglês e um dinamarquês morreram pela ingestão de estimulantes. Os casos espocavam pelo mundo todo, em 1968, no México, o COI tentou cercar o uso do doping, mas as técnicas e a turbulência da época dificultou a investida, até que em 1972, em nos Jogos Olímpicos de Munique instituiu-se o controle efetivo dos casos de dopings nas praticas esportivas.

A atuação do Comitê Olímpico Internacional (COI) se intensificou a partir de então. Em 1984 uma denúncia do uso de somatotrofina extraída da hipófise de cadáveres humanos traz a tona o trabalho de laboratórios na tentativa de construção de superatletas para as olimpíadas de Los Angeles, o que motivou no ano seguinte ao barreirista norte-americano Edwin Moses a promover uma campanha mundial contra o doping dos atletas, uma luta árdua que só foi vencida quando o COI o apoiou. A confissão em 1989 de Marita Koch chocou o mundo, a atleta revelou que fora dopada desde a infância para se tornar imbatível. Mas foi em 1993 que os resultados do uso de anabolizantes em mulheres causou maior espanto, Heidi Krieger, arremessadora olímpica de peso da Alemanha Oriental confessou ter recebido injeções de hormônios masculinos durante todo período em que participara das competições e por isso, seu corpo modificara, por isso, seria submetida a uma cirurgia de mudança de sexo. Heidi passou a se chamar Andréas e em 1998 quis devolver juntamente com outras duas atletas suas medalhas, por tê-las conquistadas de modo indevido. O remorso alemão modificou a cultura daquele país, entretanto, novas superatletas despontavam, desta vez vestindo as cores da China, mas nada foi comprovado. A suspeita é provavelmente os chineses tenham desenvolvido algumas técnicas de mascaramento dos resultados. Mais uma vez acredita-se que a saúde e a ética tenham sido colocadas de lado em prol de objetivos escusos.
Outras técnicas que beiravam o absurdo chegaram a ser utilizadas, a inserção de ar pelo ânus dos nadadores para que o corpo flutuasse com facilidade era comum em grande parte dos países comunistas e até entre alguns países capitalistas. Mas o ganho era considerado pequeno diante de outros avanços, por isso, logo foi abandonada. Era um tipo de fraude difícil de ser detectada. A manipulação da urina também extravasava a sensatez. A troca da urina do sorteado durante a coleta, pela urina saudável de outro atleta guardada em frasco escondido em certas partes do corpo, para que mantivesse a temperatura adequada, já foi uma prática muito comum, assim como misturar cerveja, uísque ou saliva para alterar o pH e diluir a amostra. Mas a mais impressionante técnica era a da introdução de um cateter até a bexiga vazia do atleta que seria escolhido pelo doping para que ali fosse colocada a urina de um atleta saudável para posteriormente ser coletada e assim apresentar resultados satisfatórios.
Como se pode notar, as questões éticas continuam sendo colocadas em segundo plano: muitos atletas se sujeitam a trapaças para tentar vencer as provas a todo custo. As autotransfusões são praticadas de modo intencional, parte do sangue do atleta é retirada, cerca de um mês antes, mantido resfriado a 4o C, e aplicado pelo próprio atleta. Isso favorece a oxigenação, o que representa uma vantagem significativa para provas que às vezes dura por vários dias. Mas esse processo é perigoso e o risco de embolia é muito grande, foi o que aconteceu com o jogador de futebol belga, Luck Derick em 1991. Antes, do recurso da autotransfusão os atletas recorriam ao uso de doses de EPO, substância que estimula a produção de hemácias e que resultava em ganhos no desempenho para o competidor. Contudo, desde que a técnica da detecção de EPO já foi desenvolvida, os desleais têm apelado para outros recursos. Segundo os relatos do atleta francês Philippe Gaumont, "para evitar serem flagrados pelo uso da testosterona injetável, os atletas sem escrúpulos colocam uma cápsula de Pantestona sob a língua, uma vez que essa versão do hormônio é eliminada com maior velocidade do que quando injetada". Outras formas de fraudes são encontradas, como falsos atestados médicos que induzem ao uso de medicamentos proibidos, como se deles fossem dependentes.

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