quarta-feira, agosto 30, 2006

As mulheres blindadas e o doping

A história dos dopings não se limita ao fiasco Ben Johnson, Florence Griffith Joyner, uma corredora norte-americana um tanto quanto excêntrica e espalhafatosa, que era considerada pelos americanos como a eterna vice-campeã, surpreendeu o mundo quando aos 28 anos, no início de uma fase decadente, se transformou num meteoro nas pistas, pulverizando recordes e conseguindo marcas melhores que os homens de muitos países de tradição nos 100 metros rasos. Essa ascensão chamou a atenção de muita gente e denuncias começaram a surgir, mas nada se pôde ser comprovado, entretanto, em 1998, Florence, a Flo Jô, para os americanos, morreu aos 38 anos por causa de uma parada cardíaca, supostamente pelo resultado da ingestão no passado de substâncias que lhe alteraram o organismo.

O uso de substâncias proibidas vem sendo desvendado gradativamente e seus efeitos, trazidos à tona. Um dos primeiros relatos aconteceu em 1991, quando a nadadora campeã da Alemanha Oriental de 1976, Kornélia Ender, revelou após a queda do muro de Berlin, ter recebido injeções durante os treinamentos e competições sem sequer desconfiar que estava sendo dopada. Tudo pelos interesses políticos da época. Era a busca da supremacia olímpica por parte dos países da cortina de ferro. Embora as outras 13 nadadoras alemãs que arrebataram medalhas não tivessem assumido o uso do doping, fica difícil acreditar que Kornélia fosse a única compatriota na qual a "bem sucedida" trapaça teria sido aplicada. Era a credibilidade do poderio dos países do bloco socialista indo literalmente por água abaixo. Foi assim que a unificação das duas Alemanhas, em vez de produzir uma superpotência olímpica, revelou a existência de laboratórios do antigo governo cujas práticas visavam a ilegalidade esportiva e uma lista de inúmeros atletas que se drogavam para conseguir medalhas foi sendo revelada. Muitos negaram, porém, as evidências apontam para vergonhosos mutantes criados principalmente pelos alemães, tudo em benefício de uma ideologia falida. Como os norte-americanos eram os inimigos direto que tinha em sua sociedade machista um enfoque mais dirigido aos esportes masculinos, a Alemanha Oriental investiu pesado na fabricação de mulheres "blindadas". A preparação iniciava-se nas escolas, onde os esportes olímpicos e em especial a natação eram esportes obrigatórios desde as séries iniciais. A continuidade era dada em centros olímpicos amparados por laboratórios de Física, Química e Biologia cujo objetivo era produzir seres humanos imbatíveis. Como os usos de esteróides anabolizantes em mulheres culminavam em ganho substancial de desempenho, as práticas tornaram-se comuns e muitas atletas alemãs orientais chegavam nas competições com estaturas similares à de alguns jogadores de basquete, musculatura densa e forte e voz grossa. Durante o período em que a Alemanha Oriental fabricou seus campeões, o país conseguiu 31 medalhas de ouro com suas nadadoras e 25 no atletismo feminino. Sem falar nas provas masculinas, onde a supremacia não era tão evidente. Hoje essas atletas são vistas ora como monstros, ora como coitadas, ora como fraudes, ora como mulheres que perderam sua feminilidade. Será que valeu a pena? Certamente, não.

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